terça-feira, 31 de julho de 2007

sand and mud for miles and miles

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"Quick , Ju!", he cried. "We're close to the sea. I can hear it! Listen! That's where they've went. P'raps we can catch them if we was in time. They didn't mean to go without us. They've only forgot." "Iss", said Judy. "They've only forgotted. Less go to the sea." (...) He took Judy by the hand, and the two ran hatless in the direction of the sound of the sea. (...) They climbed another dune, and came upon the great grey sea at low tide. Hundreds of crabs were scuttling about the beach, but there was no trace of Papa and Mamma, not even of a ship upon the waters -- nothing but sand and mud for miles and miles. (Rudyard Kipling; "Baa baa black sheep")
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sábado, 21 de julho de 2007

wino

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Eu tinha três chances de ver a Amy Winehouse. Quer dizer, dois dos shows (na Somerset House e no ICA) estavam com os ingressos esgotados e o terceiro, num festival da Virgin perto de Birminghan, me deu certa preguiça -- além da grana com os tickets eu teria que desembolsar ricos dobrões com a viagem. O Sam, inglês que me ensina cockney enquanto frita o café-da-manhã na cozinha de casa, disse que eu poderia tentar aparecer na Somerset House antes do show e negociar com os cambistas. Eu já tinha visitado a Somerset House. Um dia, estava andando na Strand, procurando um ônibus para Waterloo (que era logo ali do lado!), e fui atraído pela suntuosa fachada.

A existência do prédio remonta ao ano da graça de 1549, quando o Duque de Somerset decidiu que precisava de uma casa maior. Somerset, no entanto, não viu seu bangalô ficar pronto. Em 1552, o rei pediu sua cabeça, que rolou Tower Hill abaixo, e confiscou as propriedades do duque, entre elas a Somerset House. A partir de então, o lugar virou residência de um montão de rainhas. Elizabeth I morou lá, Catherine de Bragança também. Em 1775, um projeto para transformar a casa Somerset em um prédio público foi aprovado, reformas foram feitas (tudo foi praticamente reconstruído) e o lugar ganhou a cara que tem hoje.



O Sam disse que Amy mora no nosso bairro, Camden. Ele cruza com ela no Sainsbury, aqui pertinho, provavelmente na seção do sucrilhos preferido ou da bolacha hedionda. Confirmou que ela é mesmo boa de copo (no Dublin Castle, pub do bairro, ela teria gritado: “First person to get a bottle of tequila to the stage gets a sex act!”). Além disso, o Sam me ensina, enquanto frita suas bangers matinais, que em cockney cérebro não é "brain", mas sim "loaf"; braços não são "arms", mas sim "chalks"; e cerveja é "britney", nunca "beer".


E lá fomos nós para a porta da Somerset House. Julia mostrou-se uma negociante implacável. No meio de uma dezena de cavalheiros cochichando preços extorsivos, ela foi realmente durona. Não cedeu em nenhum momento e praticamente fez o cambista sair chorando.

Ingressos na mão, entramos na casa Somerset. Olhando o palco e as pessoas chegando -- comprando suas pints de Forster, emolduradas pela fachada dos prédios -- entendi porque todos os shows da temporada ali estavam com os ingressos esgotados (Mogwai, Black Rebel Motorcycle Club, Kasabian). No princípio, ficamos com um pouco de medo da chuva que tinha dado as caras pela manhã (esse é o verão mais chuvoso na Inglaterra desde que os registros começaram a ser feitos, em 1914), mas para a nossa sorte o céu abriu e às nove horas, com a noite baixando, a Amy foi anunciada pela filha do Ozzy Osbourne -- que passou o show inteiro ao lado do palco, sorrindo. Na foto abaixo, Amy aciona um de seus capangas para dar cabo nela.


Amy surgiu e começou com "You know I'm no good", seguida de "Addicted" e "Tears dry on their own" -- e ainda bem que desta vez ela não cuspiu na platéia. A atmosfera é de uma noite cheia de fumaça, com um homem no balcão, tragando uma neblina, perdido em alguma curva dos anos 60. Fiz alguns videozinhos, aqui, aqui e aqui.

Depois, pra noite ficar completa, saímos e fomos jantar em um lugar com uma vitrola chiando e chão quadriculado.

O Sam ensinou: não é "tea", é "rosy lea".

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quarta-feira, 4 de julho de 2007

atores parados em suas marcas

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"Na história de nosso amor, um foi sempre
Uma tribo nômade, outro uma nação em seu próprio solo.
Quando trocamos de lugar, tudo tinha acabado.
O tempo passará por nós, como paisagens
Passam por trás de atores parados em suas marcas
Quando se roda um filme.
As palavras
Passarão por nossos lábios, até as lágrimas
Passarão por nossos olhos.
O tempo passará
Por cada um em seu lugar.
E na geografia do resto de nossas vidas,
Quem será uma ilha e quem uma península.
Ficará claro pra cada um de nós no resto de nossas vidas
Em noites de amor com outros."

"Nossa história", Yehuda Amichai
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