sábado, 20 de setembro de 2008

tomado de furores abstratos

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"Eu, naquele inverno, estava tomado de furores abstratos. Não direi quais, não é isso que me proponho a contar. Mas é preciso dizer que eram abstratos, nada heróicos, nem vivos; de qualquer maneira, furores pelo gênero humano perdido. Vinha assim há muito tempo, e andava cabisbaixo. Via manchetes nos jornais sensacionalistas e abaixava a cabeça; estava com os amigos, uma hora, duas horas, e ficava com eles sem abrir a boca; abaixava a cabeça; e tinha uma moça ou uma mulher que me esperava, mas nem com ela eu trocava uma palavra, mesmo com ela eu abaixava a cabeça. Chovia o tempo todo, passavam-se os dias, os meses, e eu tinha os sapatos furados, a água me entrando nos sapatos, e não era mais nada que isso: chuva, carnificinas nas manchetes dos jornais, e água nos meus sapatos furados, amigos mudos, a vida em mim como um sonho surdo, e não-esperança, calmaria. Isso era terrível: a calmaria na não-esperança. Dar o gênero humano como perdido e não ter vontade de fazer coisa alguma quanto a isso, nem vontade de me perder, por exemplo, com ele. Eu estava perturbado por furores abstratos, não no sangue, e ficava quieto, sem vontade de nada. Não importava que minha namorada estivesse me esperando, estar com ela ou não, ou folhear o dicionário, era para mim a mesma coisa; e sair para ver os amigos, ou ficar em casa, era o mesmo para mim. Estava quieto; como se nunca tivesse tido um dia de vida, nem jamais soubesse o que é ser feliz, como se nada tivesse a dizer, a afirmar, a negar, nada de meu para pôr em jogo, nada a escutar, a dar, e nenhuma disposição de ganhar, como se em todos os anos de minha vida nunca tivesse comido pão, bebido vinho, ou tomado café, nunca tivesse estado na cama com uma mulher, nunca tivesse tido filhos, nunca tivesse brigado a socos com alguém, ou não achasse tudo isso possível, como se eu nunca tivesse tido uma infância na Sicília, entre os figos-da-índia e o enxofre das minas, nas montanhas; mas, dentro de mim, eu me agitava com os furores abstratos, e pensava sobre o gênero humano perdido, abaixava a cabeça, e chovia, não dizia uma só palavra aos amigos, e a água me entrava nos sapatos."

(Elio Vittorini; Conversa na Sicília)
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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

vietcongue

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Organizando minhas fotos, encontrei esta, da Flip 2004. Eu e o Cardoso, síndico do COL (que faz 100 anos amanhã), cuidando da defesa antiaérea de Haiphong em pleno Vietnã.

O momento foi imortalizado no mirabolante texto cardoseano sobre a referida Flip-Indochina do Sul:

"VIETNAM:

É aquele clássico drink game de FRAT BOY, que consiste em:

1. abrir um BURACO no RODAPÉ de uma latinha de ceva;
2. encaixar o furo na BOCARRA;
3. abrir o anel de cima.

A idéia é beber todo o conteúdo da lata no GUTI – germanicamente conhecido como GUTI-GUTI. As regras são SIMPLES: quem não conseguir, PERDE. Acho que quem CONSEGUIR só DEPOIS do outro, também perde, mas aí já não tenho bem certeza por que não só perdi EU como também perdeu EMILIO: nenhum dos dois concluiu a tarefa com plenitude. Sobrou uma REBA em cada. Merda."
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terça-feira, 16 de setembro de 2008

cada um no seu quadrado

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Mês passado entrevistei alguns quadrinistas sobre o processo criativo de cada um deles. Precisei deixar muita coisa fora do texto, então segue o que cada um disse na íntegra.
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Rafael Grampá: "Meu traço melhora muito das duas às seis da madrugada. Quando chega essa hora, eu já estou trabalhando há muito tempo e minha mão fica levemente adormecida. Eu quase não sinto minha mão tocando o papel, parece que sobra apenas minha mente e o traço, aparecendo sozinho. Acho interessante a sensação que surge logo depois que se tem uma boa idéia. É quase como acertar no bingo, só que melhor. Quando eu era moleque, bem criança, eu era louco pelo Popeye. Desenhava ele o tempo inteiro e acho que ainda consigo encontrar no meu traço influência do E. C. Segar e de outros artistas que desenharam o Popeye. Já adolescente, minha vida mudou depois que eu conheci o Gustave Doré. Hoje em dia me interesso mais em buscar referências narrativas, pois sei que o desenho vai evoluir naturalmente. Uma das minhas principais influências é o cinema, principalmente o do diretor Sergio Leone, que eu admiro pela originalidade da narrativa. Antes, lá fora, brasileiros eram mão de obra barata, tinham espaço apenas nos quadrinhos de linha, de super-heróis. Agora parece que somos esperança de sangue novo. Quando ganhamos o Eisner pela nossa HQ independente 5, ouvimos de figurões e de grandes ídolos que o prêmio não seria importante apenas para nós, mas sim para a indústria em geral. Foi a primeira vez que uma HQ independente ganhou em uma das categorias mais disputadas do Eisner Awards, a de “melhor antologia”, que costuma ser onde os novos artistas surgem. Disseram que isso mostra uma mudança no pensamento da indústria americana de HQs, antes totalmente mainstream e hoje diferente, buscando novo fôlego nos quadrinhos de autor. Quadrinhos ainda é uma arte muito inexplorada, muito jovem, e tem muito o que evoluir. Estamos numa fase muito boa e a quantidade e qualidade dos artistas vem aumentando."
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André Kitagawa: "A questão da narrativa é primordial, me empenho em fazê-la bem. Parte da graça está na maneira como as histórias são contadas. Na origem, sou um desenhista e nesse quesito sempre estou disposto a experimentar, mas sem cair no mero experimentalismo. No Chapa Quente há uma clara variação de estilos e técnicas. O gosto pela temática urbana é uma coisa natural em mim, nunca vislumbrei outro cenário para as minhas histórias. Gosto de alguma sordidez, humor negro, amores platônicos, tédio, losers, situações limite e atitudes inexplicáveis. Minhas histórias geralmente nascem a partir de fragmentos, de pequenas idéias e visões que tento recombinar pra forjar uma narrativa que faça sentido pra mim. Comecei com a pretensão de desenhar super heróis, naquele estilo bem clássico. Mas depois desencanei e fui buscar outras referências. Como quadrinista fui gerado em meio ao boom dos anos 80: Frank Miller, Alan Moore, Angeli, Laerte, revista Animal (com os quadrinhos "adultos" e alternativos da Europa, dos EUA e do Brasil). Fanzineiros da época também me influenciaram: MZK, Alberto Monteiro, Yuri Hermuche. O desenhista que mais gosto é o argentino Muñoz. A capa do disco Goo do Sonic Youth tinha um desenho que eu não cansava de admirar e estudar. Além disso, uma salada de coisas me influenciou. De Scorsese a Vuillemin, de Rubem Fonseca a Fábio Zimbres. Meu jeito de fazer quadrinhos hoje em dia é bem careta até, procuro fazer um roteiro sem falhas (e já errei muito), uma narrativa fluida e envolvente, um desenho expressivo e sempre bem inserido dentro do contexto narrativo. Mas não precisa ser assim, é só a minha opção. Acho que os quadrinhos estão abertos a todo tipo de experimentação, dá pra pirar muito, fazer coisas que, no cinema por exemplo, seriam inviáveis."
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Rafa Coutinho: "Gosto do traço limpo, combinado com uma pintura mais solta. Busco muito uma aproximação com o real, porque gosto do real. E como gosto das narrativas mais fragmentadas e histórias confusas, o mínimo que eu tenho que fazer pelo leitor é o personagem parecer o mesmo de um quadro pro outro. Gosto de terminar de ler uma história com aquela sensação de ter participado de um negócio muito especial, de tomar aquele tapa na cara, essas são as histórias que eu busco quando desenho. Bebo muito no quadrinho de alguns autores que me influenciaram e ainda me influenciam, como Miquelanxo Prado, Jaime Hernandes e o Tayio Matsumoto. Atualmente me apaixonei pelo Cris Blain e o Gippi. No Brasil estão reaparecendo as histórias mais longas, de mais fôlego. O difícil é abrir uma janela no meio dos outros trabalhos. Continua sendo um trabalho mal remunerado, quadrinhos no Brasil. Isso sempre complicou tudo, mas por força divina os autores ainda fazem e cada vez mais. E sim, a trama continua sendo fundamental, meio como cinema ou literatura. As evoluções e experimentações no meio sempre existiram, mas no fim você tem que contar uma história."
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DW: "O pincel é com certeza o instrumento com o qual mais gosto de desenhar. Minhas influências são muitas, o mundo é grande e interessante. No momento estou fascinado pelo John Lennon, pelo Charles Burns, e sempre pelo Cortázar. Acho importante manter o leitor consciente de que a HQ tem características próprias que fazem dela uma linguagem peculiar. Sempre penso que o visual é o mais importante, mas sentar e ler uma boa história torna a experiência completa, mesmo que essas tramas às vezes sejam bastante "abertas" e peçam dedicação para serem absorvidas."
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Daniel Bueno: "Meu estilo nos quadrinhos tem relação direta com o das ilustrações. Os contornos geométricos e sintéticos, o apelo ao grotesco e a ambientes soturnos, o uso de texturas e colagem. Quando elaboro as histórias, estruturo os quadros de modo muito simples, e faço textos diretos e curtos. Em relação aos temas, costumo partir de aspectos do cotidiano que me incomodam para abordar questões existenciais. Meu estilo de ilustração tem influências muito variadas: admiro Grosz, Depero, Steinberg, Jim Flora, Covarrubias. Leio quadrinhos de todo gênero desde pequeno, mas nos últimos anos o que têm me chamado a atenção é a produção alternativa, coisas da velha RAW e das revistas Blab!, Le Dernier Cri, Strapazin, Kramers Ergot. Gosto das experimentações muito encontradas nas histórias curtas. Elas estão frequentemente no limiar do “errado”, e quando acertam chegam a situações novas e inusitadas. Por outro lado, também aprecio HQs longas, de desenho sutil e em harmonia com o roteiro, ambos integrados de modo a contar bem uma história. É o caso dos quadrinhos de Christophe Blain, Art Spiegelman, Hugo Pratt, e outros. No Brasil também temos ótimos contadores de história, como o Laerte, Pavanelli, Mutarelli, Spacca, Kitagawa. Luiz Gê é referência obrigatória, foi um desbravador nos tempos da revista Circo, explorou os recursos de narrativa como ninguém. Chama a atenção o trabalho do Guazzelli, que sabe inserir em HQs longas experimentações de desenho e narrativa, com traço muito refinado. Temos também o Zimbres, que recentemente lançou uma novela gráfica experimental, Música para Antropomorfos, feita a partir das músicas da banda Mechanics. Acredito que o quadrinista deve ser honesto consigo mesmo e fazer aquilo que considera o melhor, sem comprometer seu trabalho em função do mercado ou do gosto mediano...Tem que ter algo a dizer, ir longe em sua proposta, falar de coisas indigestas e desagradar a si mesmo, se for necessário. Coisa que Harvey Pekar, por exemplo, sabia fazer muito bem. Uma narrativa longa requer domínio do conjunto da obra, da estrutura do roteiro, da relação da história com os aspectos gráficos. Saber encontrar o equilíbrio entre o desenho e roteiro é um dos segredos. Existe sempre o risco do quadrinista se perder em devaneios gráficos, cair na redundância e monotonia, errar no ritmo do roteiro, não saber resolver o final. Acho a trama importante, mas quando isso é feito como oposição a outras abordagens mais experimentais, fico preocupado, pois me parece conservadorismo e fruto de incompreensão. O fato é que a HQ permite uma grande variedade de opções, suficientes para abarcar inúmeros caminhos."
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Fabio Lyra: "Faço HQs bobas sobre garotas, com um traço limpo e elegante. É o que dizem. Minhas principais influências são Moebius, Nick Hornby, Jaime Hernandez, Daniel Clowes e o Sergio Leone. Moebius foi importantíssimo para a minha formação. Eu tinha 16 anos e ainda estava naquele mundo de super-heróis, quando caiu em minhas mãos um álbum do cara. Aquilo foi o suficiente para abrir meus horizontes e mostrar que quadrinhos podem ser muito mais do que gente de collant apertadinho. O Nick Hornby é o grande responsável pelo tipo de HQs que eu faço. Quando li o Alta Fidelidade eu não estava satisfeito com os quadrinhos que andava rascunhando, não estava à vontade com eles. Ler o livro do Hornby e ver como ele falava com naturalidade sobre temas contemporâneos e a sinceridade com que ele escrevia foi muito inspirador para mim. Sergio Leone é um gênio, tudo que aprendi sobre narrativa foi assistindo aos westerns que ele fez. Esse tipo de quadrinho autoral, com um pezinho nas graphic novels, ainda não tem uma "escola" no Brasil. Só o desenho não basta, é preciso ter uma história que seja envolvente e que cative o leitor."
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Gabriel Moon e Fábio Bá: "Nós temos traços expressivos e detalhados, e isso é um resultado do tipo de histórias que gostamos, mais intimista, sobre relacionamentos humanos, onde as expressões faciais, os gestos, a linguagem corporal e os detalhes do ambiente são importantes para construir o clima da história. Gostamos de contar histórias de drama humano, usando elementos fantásticos para ressaltar os aspectos mais cotidianos dos relacionamentos entre as pessoas. Queremos criar um registro da época em que vivemos e o modo como as pessoas se relacionam está diretamente ligado aos tempos de hoje. Gostamos de Laerte, Will Eisner, Guimarães Rosa, Neil Gaiman. Queremos ser visto como autores, tanto aqui como lá fora, e nossos esforços internacionais são nesse sentido. É um caminho difícil e longo. Para mim, a premiação do Eisner é uma validação e um reconhecimento desse trabalho de autor, e deve nos ajudar a continuar contando nossas histórias. Acho que essa nova geração não está ligada mais ao humor como acho que a geração anterior estava. Acho que existe uma busca de narrativas mais sérias, mais longas, numa aproximação maior com a literatura e com o cinema do que com a charge e o cartum. Acho que hoje em dia os quadrinhos são "cool", viram filmes, desenhos animados e bonequinhos. Mas esse prestígio vem ligado a uma ignorância, muita gente nem sabe o que está sendo feito em quadrinhos, não lê o que está sendo publicado. Existem coisas que só são possíveis em quadrinhos, pois a HQ tem um ritmo de leitura muito singular, tornando a experiência da leitura muito mais impactante do que a literatura, muito mais intimista, pois é o leitor quem determina o tempo da história, e muito mais maleável do que o cinema, que tem seu ritmo de 24 quadros por segundo. Existe uma poesia na escolha das palavras de uma HQ, e assim também acontece com a escolha das imagem de cada quadrinho, na escolha do que mostrar e do que deixar de fora. Você direciona o olhar do leitor e o mergulha no mundo de uma maneira que só é possível numa história em quadrinhos. Nas HQs, você precisa escolher as palavras e as imagens, e nessa escolha está o estilo do autor, sua voz, sua visão de mundo. O mais difícil numa HQ é saber o que tirar, o que é gordura, e somente deixar o que é essencial."
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domingo, 7 de setembro de 2008

gena é um gênio

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Gena Rowlands, enormíssima.

A woman under the influence, John Cassavetes, 1974
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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

receita de panqueca

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Muita gente diz que, perto da realidade, a ficção é panqueca.

Nos anos 60, o Tom Wolfe viu o jornalismo tomando o lugar do romance. "Os romancistas abandonaram o realismo", dizia. "A literatura mais importante escrita hoje na América é de não-ficção." Ele queria que o jornalismo, o Novo Jornalismo (reportagens apuradas com técnicas em geral associadas à literatura), alcançasse o "status" que tinham os romancistas.

Além de só usar ternos brancos e feiosos, ele fazia uma curiosa leitura histórica: chamava a atenção para uma suposta semelhança entre os primeiros dias do romance e os do Novo Jornalismo ("Em ambos vemos surgir um grupo de escritores trabalhando um gênero considerado Classe-Baixa -- o romance antes de 1850 e o jornalismo das revistas populares antes de 1960"), e pintava o realismo como o maior dos gêneros (“O gênio de qualquer escritor estará seriamente comprometido se ele abandonar as técnicas do realismo. Ninguém jamais se comoveu até as lágrimas com Homero, Sófocles ou Shakespeare. Mas todos choram com Charles Dickens.”)

Ou talvez o problema seja comigo. O sonho dos heróis, por exemplo. Não é uma história (de todo) realista, não tem as crianças e o natal do Dickens, mas, puxa, desde que a Julia me deu o livro, há dois anos, estou chorando sem parar. Tem uma noite do carnaval de 1927, uma noite que o protagonista não consegue lembrar e decide tentar repetir passo a passo na intenção de recuperá-la. Perto da busca por essa noite perdida, em que algo extraordinário e revelador aconteceu (ele só não consegue se lembrar o quê -- como quando a gente acorda e perde aquilo que viveu, nos sonhos), perto de coisas assim, a "realidade" é que gruda na frigideira e faz a maior fumaça.

Mas estou sendo injusto com o Tom Wolfe. O Bioy Casares conta, no prólogo da edição argentina do Sonho, que o real esteve ali, o tempo todo: "Es difícil reconstruir con exactitud la génesis de un libro, incluso de uno proprio. Muy en el principio tuvo que haber estado la idea de que la realidad puede ser fantástica en cualquier momento. A veces la vida nos da una visión momentánea de algo que quiebra el orden de la realidad, como si el mundo estuviera hecho de infinitos mundos que de vez en cuando confluyen. (...) La parte fantástica de El sueño de los héroes fue menos lo que me impulsó a escribir que la vida en Buenos Aires, la amistad, la lealtad, todos esos temas que hay en la novela me entusiasmaron más que lo asombroso del argumento. Muchas circunstancias que aparecen en el libro son recuerdos de relatos que se contaban en un restaurante donde se reunían los choferes de taxi, en calle Montevideo, al que de chico me llevaba Joaquín, el portero de casa. Allí se contaban historias en las que trasnochadores de vida rumbosa, después de una noche de farra en algún cabaret, salían en un taxi abierto a dar grandes paseos con mujeres por los bosques de Palermo. Creo que haber escuchado esas historias fue uno de los móviles que me llevó a la novela. Otro fue la ansiedad que sentimos cuando creemos haber perdido algo en un sueño, una experiencia que casi todos hemos tenido. (...) En cuanto a los personajes, traté de darles realidad, que no fueran sólo marionetas para hacer posible el argumento, como había ocurrido en mis libros anteriores."
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